Veja a si mesmo como um negócio

Professor da escola de negócios IMD, da Suíça, sugere quatro perguntas para fazer escolhas melhores ao criar e capturar valor para seu trabalho

Por Albrecht Enders*

 

A criação de valor não é de muita utilidade para um negócio a menos que este possa absorver uma parte significativa disso como lucro. O mesmo é verdade para você como indivíduo. Para prosperar na carreira é preciso conquistar ambos os lados do conceito, como se fosse uma empresa. Crie valor concentrando-se na sua contribuição diferenciada e no que é feito para manter essa vantagem.

Pergunte: Qual é a sua vantagem competitiva?

Desenvolver um conhecimento diferenciado é crítico, mas também é preciso se certificar de que de alguma forma ele é notado. O que significa que se deve gravitar em torno de áreas do negócio ou líderes que precisam de suas habilidades.

Em particular, é necessário identificar os benefícios percebidos pelo chefe direto. O que é que ele ou ela realmente precisam em torno do qual se possa criar mais valor? Que tipos de dores de cabeça você resolve? Talvez você preste socorro realizando atividades desgastantes ou demoradas, ou conquiste coisas que pareçam difícil para os outros.

De acordo com Jouko Karvinen, ex-CEO da Stora Enso, uma gigante finlandesa de papel e celulose, “o que me fez especial foi a minha capacidade de identificar e reunir pessoas brilhantes, muitas mais espertas do que eu. Quanto mais você seguir em sua carreira, mais valiosa essa capacidade se torna”.Então, pense sobre o que o diferencia e impeça o seu chefe de substituir-lhe por outro executivo que pode fazer um trabalho melhor ou o mesmo por menos.

Então pergunte a si mesmo: a sua vantagem competitiva é sustentável?

Identificar como adicionar valor para o chefe e a organização é o primeiro desafio; em seguida, é necessário se perguntar até que ponto é possível manter essa vantagem no futuro. No passado, apenas ter conhecimento era muitas vezes um grande diferencial. Hoje é mais valorizado saber como conquistar isso, especialmente através da capacidade de fazer conexões, colaborar com os outros e fazer perguntas inteligentes. A vida útil da informação é cada vez menor e coloca o ônus sobre o indivíduo para continuar renovando habilidades e se reinventando. Como Gerard Kleisterlee, ex-CEO da Philips, expressou, “sempre aprenda… Todos os dias. Quando você está na minha posição, não importa sua idade ou o seu mandato, todos os dias ainda há uma oportunidade de aprendizagem. E eu tento manter essa mentalidade”.

Pergunte-se: Qual é o seu ROI?

Se você é um executivo valorizado provavelmente está bem recompensado por seus esforços, não só financeiramente. Mas para determinar o retorno sobre o investimento deve-se também focar nos desgastes pessoais que incidem. Enquanto os benefícios superarem significativamente os custos, pode se aceitar os sacrifícios. O CEO da Lego, Jorgen Vig Knudstorp, é muito consciente desta troca: “Se eu quisesse evitar viajar e estar em casa para o jantar todas as noites, eu não deveria ter aceitado este trabalho. Mas quando você está apaixonado pelo que faz, então você aceita as consequências. No entanto, como um pai de quatro filhos, eu não tenho hobbies. Dedico todo o meu tempo livre para estar com a minha família “.

Em que momento você decide que os custos são muito altos e as recompensas não são dignas de mais tempo? Às vezes, no início da carreira você está preparado para fazer um sacrifício especial, tal como assumir uma missão desgastante ou fazer um trabalho não agradável, prevendo que será pago mais tarde. O problema é quando essa dor temporária simplesmente não vai embora.

Então, pergunte: o sucesso está custando muito? É possível cortar custos?

Uma resposta comum é simplesmente começar a buscar um emprego diferente. Uma alternativa é procurar maneiras de reduzir custos em seu trabalho atual. Os executivos muitas vezes subestimam o alcance que eles têm para mudar o que e como fazem. É possível redefinir seu trabalho, examinando a lista de tarefas e talvez delegar aquilo que suga energia ou acrescenta pouco valor. Também é possível esticar os limites de atuação para outras áreas e se reorientar para atividades que o mantenha envolvido e energizado, onde possa fazer a diferença.

Ao mesmo tempo, é preciso pensar sobre as atividades em que se está envolvido e que não criam muito valor ou ajudem a construir uma vantagem competitiva. Se você pode começar a mudar seus recursos para atividades que agregam mais, com base no entendimento do que o seu chefe está realmente procurando, faça isso. O resultado será um profundo impacto sobre sua criação de valor global.

Adotar uma lente focada na criação de valor deve ajudá-lo a pensar mais estrategicamente sobre a carreira, onde você está contribuindo e onde investir seus esforços, mas também pensar quais são as trocas necessárias e atividades que precisam ser abandonadas. Você deve questionar quais custos está disposto a assumir para continuar a assegurar esse valor, e por quanto tempo.

Periodicamente, quando você sente que as coisas estão ficando fora dos eixos, reveja a sua estratégia, de modo que possa capturar uma fatia maior do valor criado.

 

*Albrecht Enders é professor de Estratégia e Inovação do IMD. Ele lidera o programa Advanced Strategic Management program.

Fonte: http://vocesa.uol.com.br/noticias/carreira/veja-a-si-mesmo-como-um-negocio.phtml