Recentemente, vários veículos de comunicação dedicaram extensas matérias à análise do estresse – tratando-o como doença do século – o que não é exagero.
O mundo moderno, especialmente os mercados capitalistas, tem feito da luta pelo resultado uma prioridade. Tem-se de fazer cada vez mais e melhor, superando os desafios por mais que estes pareçam inalcançáveis, atuando com destaque entre os muito bons e, se possível, beirando a genialidade de modo que nos tornemos indispensáveis ao mercado, sendo nossa capacidade de pensar e agir com proficiência neste mercadoa mais valiosa moeda. Isso exige dedicação quase em tempo integral e, nessa toada, o tempo que deveríamos dedicar ao lazer e à família costuma ser o que sofre “desconto” no momento de se equacionar as prioridades.
Paradoxalmente, esse mesmo mundo que nos cobra um desempenhoprofissional que por vezes desgasta nossa saúde é também o mundo que nos orienta a ter qualidade de vida, a buscar alimentação correta, a praticar atividade física e a conviver mais e melhor com os familiares, ou seja, dedicação a si, à família e ao trabalho. Pensar em equacionar tudo isso, por si só,já pode causar estresse.
Segundo especialistas, a caminhada rumo ao estresse segue três etapas. A primeira é a fase de alerta, quando ações externas começam a incomodar o indivíduo; depois viria a fase de resistência – na qual o organismo reage por meio de sintomas como insônia e descontentamento com a vida em geral;por fim viria a fase da exaustão, quando o organismo sofre com o surgimento de várias doenças crônicas.
Verdade é queno momento contemporâneo torna-se quase impossível não ser vítima do estresse. São as atividades profissionais aliadas a questões como insegurança pública, caos no trânsito, responsabilidades várias, necessidade de vencer e, em alguns casos, medo de viver. Tudo isso se soma no nosso entorno e mesmo que nossa percepção dos fatos destoe da maioria, acabamos por ser tocados por esse estado coletivo no qual as depressões, cada vez mais comuns, parecem dar um alerta geral. Parem o trem do estresse e vamos todos descer. E descer desse trem é seguir certo adágio popular que diz: “Deve-se trabalhar para viver e não viver para trabalhar.”
Isso significa trabalhar de modo mais produtivo, porém menos intensivo. Valorizar o que deve ser valorizado em cada área da vida, consciente de que há sempre um novo dia, procrastinando o que pode esperar e até descartando o que não é essencial. É preciso delegar e nesse ato há uma decisão primordial a ser tomada, pois o indivíduo deve perceber em quais momentos ele é realmente imprescindível e em quais está simplesmente sendo preciosista.
Nenhum indivíduo humano consegue ser onipresente, portanto é necessário cuidar sobretudo de si, pois é cuidando de si que poderá ter condição de cuidar de todo o resto. Desse modo, o remédio para o estresse nosso de cada dia talvez contenha certa dose de egoísmo oriundo da necessidade de sentir o próprio corpo e o próprio espírito, evitando exigir deles além do limite. Trabalhar para viver bem e, tendo adquirido essa condição de viver bem,usá-la para viver mais.